Cartas de Valor

Investir em um Mundo em Transição

Se tem uma coisa que a história dos mercados nos ensina é que a clareza só aparece no retrovisor. Nos anos 1980, poucos acreditavam que investir em tecnologia mudaria o mundo.

Quem apostou em empresas como Microsoft ou Apple viu sua paciência ser recompensada de forma extraordinária. Nos anos 2000, quando a China entrou na OMC, muitos duvidaram que se tornaria a “fábrica do planeta”. Hoje, ninguém questiona.

Agora, em 2025, estamos diante de um novo conjunto de forças. Juros globais persistentemente altos, a revolução da inteligência artificial, a corrida energética e mineral, além da concentração cada vez maior da riqueza.

Esses vetores não são modismos — são teses estruturais que vão moldar a próxima década.

1. O dólar e os Treasuries — a espinha dorsal do sistema

Muita gente sonha com o “fim do dólar”. Mas a verdade é que, em cada crise, os fluxos globais correm para o mesmo porto seguro: Treasuries americanos.Mesmo com déficits enormes, os EUA continuam sendo o centro da confiança financeira mundial.

Isso significa que, para quem investe do Brasil, manter uma parte da carteira em renda fixa dolarizada não é opcional — é blindagem contra tempestades.

Dados históricos:

  • Em 2008, quando bolsas globais derreteram, quem tinha Treasuries de 10 anos (IEF) viu valorização de mais de +17% no ano.

  • Em 2020, na pandemia, ETFs como o GOVT protegeram capital enquanto ações despencavam.

Teses práticas:

  • IEF, GOVT (Treasuries médios).

  • BND, AGG (renda fixa ampla e diversificada).

2. Tecnologia e Inteligência Artificial — o novo motor da produtividade

Se a eletricidade foi a revolução do século XX, a IA é a revolução do XXI. Ela não é hype passageiro. Está mudando saúde, logística, finanças, defesa e educação.

Comparação histórica:

  • Desde 2010, o ETF QQQ (Nasdaq 100) acumulou alta de +800%, contra cerca de +300% do S&P 500 (SPY).

  • O ETF de semicondutores SOXX valorizou mais de +1.200% nesse mesmo período.

Teses práticas:

  • QQQ (tecnologia ampla).

  • SMH, SOXX (semicondutores).

  • MSFT, NVDA, GOOGL (líderes na corrida da IA).

3. Energia e matérias-primas críticas — geopolítica em movimento

O mundo fala em transição energética, mas petróleo e gás ainda representam mais de 80% da matriz global. Ao mesmo tempo, a corrida por lítio, níquel e terras raras está apenas começando.

Dados recentes:

  • O ETF XLE (energia tradicional) subiu mais de +200% desde 2020, superando amplamente o S&P 500.

  • O ETF REMX (terras raras) dobrou de valor nos últimos 5 anos.

Teses práticas:

  • XLE (petróleo e gás).

  • ICLN (renováveis e clean tech).

  • REMX, PICK (metais e mineração).

4. Dividendos e resiliência — a busca por previsibilidade

Em um mundo de incerteza, bilionários, fundos e investidores comuns buscam a mesma coisa: fluxo previsível de renda.

É por isso que os aristocratas de dividendos continuam sendo estratégicos.

Comparação prática:

  • O ETF SCHD entregou +11% ao ano em média nos últimos 10 anos, contra cerca de +10% do S&P 500, mas com menor volatilidade.

  • O VIG, que reúne empresas que aumentam dividendos há pelo menos 10 anos, segue atraindo investidores institucionais.

Teses práticas:

  • SCHD (Dividend Growth nos EUA).

  • VIG (histórico de aumento de dividendos).

  • REITs sólidos como VNQ, focados em renda imobiliária dolarizada.

5. O fator humano — disciplina em tempos de ruído

Aqui está a tese mais invisível, mas a mais poderosa: a disciplina do investidor. Os mercados são movidos por ciclos de medo e ganância.

O investidor comum perde não porque escolheu o ativo errado, mas porque não resistiu à volatilidade.

Estudo DALBAR (EUA):

Enquanto o S&P 500 entregou em média +10% ao ano em 30 anos, o investidor médio em fundos de ações capturou apenas +4% ao ano.

O motivo? Entrar e sair na hora errada, movido por emoção.

A maior tese de todas: consistência vence genialidade.

Conclusão

Essas cinco teses não são palpites de curto prazo. São forças estruturais que vão moldar o futuro:

  • O dólar e os Treasuries como âncora.

  • A tecnologia e a IA como motor.

  • A energia e os minerais como disputa geopolítica.- Os dividendos como porto seguro.

  • E a disciplina como diferencial humano.

Investir é como pilotar em céu turbulento: você não controla o vento, mas pode ajustar o curso. O segredo é não se perder nos ruídos, mas manter os olhos nas teses que atravessam décadas.

Victor Giorgi
Consultor Global de Investimentos

Reply

or to participate.